Leitura Orante (Mt 28,16 -20)
Oração
Contemple por um instante o Ícone da Santíssima Trindade, com olhar sereno observe as cores, a forma, os detalhes. Nenhuma palavra deve ser dita. Deixe por um instante o silêncio lhe envolver, então leia a Palavra como o recitar de uma poesia, pois Deus lhe fala ao coração.
1. Leitura (Verdade) - O que a Ícone diz?
16. Naquele tempo, os onze discípulos caminharam para a Galileia, ao monte que Jesus lhes determinara.
17. Ao vê-lo, Prostraram-se diante dele. Alguns, porém, duvidaram.
18. Jesus, aproximando-se deles, falou: “Toda autoridade sobre o céu e sobre a terra me foi entregue.
19. Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
20. E ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos!”
Oração
Contemple por um instante o Ícone da Santíssima Trindade, com olhar sereno observe as cores, a forma, os detalhes. Nenhuma palavra deve ser dita. Deixe por um instante o silêncio lhe envolver, então leia a Palavra como o recitar de uma poesia, pois Deus lhe fala ao coração.
1. Leitura (Verdade) - O que a Ícone diz?
Hoje convido você a uma meditação um pouco diferente.
Vamos refletir a partir do evangelho escrito neste ícone da Santíssima Trindade do russo Andrei Rublev. Talvez você não esteja acostumado com estas figuras religiosas. Elas fazem parte de uma antiquíssima tradição mais ligada a Igreja Ortodoxa.
Um ícone diz muito mais do que se vê.
Um ícone diz muito mais do que se vê.
Desde criança fui guiado por meus pais nos mistérios da fé. Com o meu pai, muitas vezes participei das novenas de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro – em Bodocongó – onde na Igreja havia um lindo ícone de Nossa Senhora - em mosaico - em frente ao qual acendíamos pequenas velas. Aquele ritual me encantava. Foi o meu primeiro contato com um Ícone. O tempo passou e ao entrar no seminário – participei de um retiro animado pelo Irmão Michel de Taizé – ali me reencontrei com os Ícones. A princípio eu não os compreendia e até os achava um tanto estranhos. Mas havia neles alguma coisa misteriosa que sempre me levava à oração. E fui aprendendo a enxergar para além do que eu podia ver com os olhos. Fui me enamorando – os Ícones me seduziram e eu me deixei seduzir .
Contemplar este ícone da Santíssima Trindade é mergulhar no mistério do amor de um Deus vivo e atuante. Lembro as palavras de nosso querido bispo Dom Luís Gonzaga Fernandes: “a Santíssima Trindade é a primeira e melhor Comunidade. O modelo para toda a Igreja ser Comunidade”.
A seguir transcrevo as palavras do Ir. Michel Fares Breidi do Mosteiro da Esperança em São Paulo - “Uma Interpretação Iconográfica do Dogma Trinitário”:
“INTRODUÇÃO:
Esta obra «Interpretação Iconográfica do Dogma Trinitário», e subtítulo «A Ceia de Abrão», apresenta um esforço para proferir explicações tentando eliminar muitas dúvidas a respeito da teologia iconográfica. Para isso nada melhor que esclarecer essas dúvidas através da realidade eclesial e das fontes mais tradicionais e antigas da história do Cristianismo como os relatos do Antigo e Novo Testamento e da Patrística, expressando-as de uma maneira nova. Para que isso aconteça escolhi aprofundar e compreender a realidade divina através do ícone da Santíssima Trindade, a obra de Andrei Rublev. É preciso saber quem foi esse escritor de ícones, sua vida e qual foi a causa de sua motivação, o que é um ícone e quais são os estágios até chegar ao que nos transporta e nos faz refletir no seu conteúdo nos induzindo a encontrar com o seu maior protagonista e autor, Deus [...]
A HISTÓRIA
O ícone da Santíssima Trindade foi "escrito" pelo santo monge russo Andrej Rublev. Ele nasceu por volta de 1365 e morreu por volta de 1430. Rublev foi testemunha de um acontecimento importante na história do seu povo: a libertação do povo russo do domínio dos tártaros. Ele, através de São Sérgio - abade e pai espiritual - desenvolveu na Comunidade o amor pela Santíssima Trindade, o amor e os cuidados para com o mosteiro e a pátria.
São Sérgio tinha dedicado toda a sua vida à contemplação da Trindade. O ícone da Santíssima Trindade de Rublev expressa toda a mensagem de São Sérgio: a sua oração viva nos é apresentada em cores e luzes, e antes de tudo, a oração de Cristo de João 17,21: "... para que todos sejam uma coisa só. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti...".
Rublev consegue harmonizar perfeitamente a tradição da Igreja e o seu dom de artista colocado a disposição do povo de Deus, transmitindo a experiência da "luz divina". Antes de "escrever" o ícone ele contemplou o mistério do qual estava se ocupando com os olhos da Igreja.
Contemplar este ícone da Santíssima Trindade é mergulhar no mistério do amor de um Deus vivo e atuante. Lembro as palavras de nosso querido bispo Dom Luís Gonzaga Fernandes: “a Santíssima Trindade é a primeira e melhor Comunidade. O modelo para toda a Igreja ser Comunidade”.
A seguir transcrevo as palavras do Ir. Michel Fares Breidi do Mosteiro da Esperança em São Paulo - “Uma Interpretação Iconográfica do Dogma Trinitário”:
“INTRODUÇÃO:
Esta obra «Interpretação Iconográfica do Dogma Trinitário», e subtítulo «A Ceia de Abrão», apresenta um esforço para proferir explicações tentando eliminar muitas dúvidas a respeito da teologia iconográfica. Para isso nada melhor que esclarecer essas dúvidas através da realidade eclesial e das fontes mais tradicionais e antigas da história do Cristianismo como os relatos do Antigo e Novo Testamento e da Patrística, expressando-as de uma maneira nova. Para que isso aconteça escolhi aprofundar e compreender a realidade divina através do ícone da Santíssima Trindade, a obra de Andrei Rublev. É preciso saber quem foi esse escritor de ícones, sua vida e qual foi a causa de sua motivação, o que é um ícone e quais são os estágios até chegar ao que nos transporta e nos faz refletir no seu conteúdo nos induzindo a encontrar com o seu maior protagonista e autor, Deus [...]
A HISTÓRIA
O ícone da Santíssima Trindade foi "escrito" pelo santo monge russo Andrej Rublev. Ele nasceu por volta de 1365 e morreu por volta de 1430. Rublev foi testemunha de um acontecimento importante na história do seu povo: a libertação do povo russo do domínio dos tártaros. Ele, através de São Sérgio - abade e pai espiritual - desenvolveu na Comunidade o amor pela Santíssima Trindade, o amor e os cuidados para com o mosteiro e a pátria.
São Sérgio tinha dedicado toda a sua vida à contemplação da Trindade. O ícone da Santíssima Trindade de Rublev expressa toda a mensagem de São Sérgio: a sua oração viva nos é apresentada em cores e luzes, e antes de tudo, a oração de Cristo de João 17,21: "... para que todos sejam uma coisa só. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti...".
Rublev consegue harmonizar perfeitamente a tradição da Igreja e o seu dom de artista colocado a disposição do povo de Deus, transmitindo a experiência da "luz divina". Antes de "escrever" o ícone ele contemplou o mistério do qual estava se ocupando com os olhos da Igreja.

ESTRUTURA GEOMÉTRICA
Como todo ícone, este também foi "escrito" com base numa estrutura geométrica muito precisa, na qual cada elemento tem uma proporção estabelecida em relação aos outros e encontra o seu lugar segundo o seu significado e o seu valor simbólico.
Essa estrutura dá equilíbrio e harmonia a todo o conjunto.
Toda a composição do ícone de Rublev foi construída sobre a Cruz, que constitui a estrutura geométrica principal. A sua vertical, como eixo central, liga a árvore, a cabeça do anjo central, o cálice e o retângulo dos mártires.
Os anjos estão dentro de um círculo que indica a plenitude e a perfeição e sublinha a circularidade dos olhares de Amor das Três Pessoas. A mão do anjo central é o centro da circunferência onde estão contidas as três cabeças.
Também o cálice, com a cabeça do cordeiro imolado sobre o altar, está dentro de um círculo, em torno do qual se concentram todos os outros, constituindo, assim, o centro "móvel" do ícone. A cabeça do anjo central forma a ponta do triângulo, cuja base é a linha inferior da mesa altar.
O segundo triângulo se apresenta inverso: a sua base superior une as cabeças dos anjos laterais e contém, no ângulo inferior, o retângulo do altar, lugar das relíquias dos mártires. O cálice do sacrifício de Cristo é ofertado sobre os corpos imolados dos seus irmãos.
Todo o ícone está inscrito em um octógono, símbolo do oitavo dia: o repouso da criação. Na concepção da época a terra era octogonal. O altar retangular indica os quatro ângulos do mundo, os quatro pontos cardeais, o número simbólico dos quatro evangelistas: é o sinal da universalidade da Palavra.
O espaço compreendido entre os dois anjos laterais assume a forma de um cálice que sobe de baixo: o Pai e o Espírito Santo "contêm" o Corpo e o Sangue de Cristo.
OS TRÊS ANJOS
Os três anjos, perfeitamente iguais e todavia diferenciados, representam um só Deus em três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
É próprio da Santíssima Trindade nem tanto diversificar, quanto ser una e indivisível, na sua essência e nas suas manifestações, embora na diversidade das Pessoas.
Conhecemos o Pai através do Filho: "Quem me vê, vê o Pai" (Jo 14,19).
Conhecemos o Filho através do Espírito: "Ninguém pode dizer Jesus Cristo é o Senhor, senão por meio do Espírito Santo" (1Cor 12,3).
Os cetros idênticos indicam a igualdade do poder do qual cada anjo é dotado. A diversidade é expressa através das cores das roupas, mas sobretudo pela atitude pessoal de cada um em relação aos outros.
No anjo da esquerda se reconhece a figura do Pai, no anjo central a do Filho e no anjo da direita a figura do Espírito Santo.
O PAI
O anjo da esquerda, o Pai, veste um manto lilás sobre uma túnica azul, símbolo da Sua divindade. O lilás é uma cor evanescente, quase transparente, sinal do mistério e da transcendência.
O seu manto cobre os seus dois ombros, ao contrário do Filho e do Espírito, porque Ele não é enviado, mas envia os outros. Este seu envio é indicado também pelo pé esquerdo, que parece estar iniciando um passo de dança, ao qual o Espírito, enviado no mundo depois do Filho, responde.
Tudo converge para ele, como para a fonte: os outros dois anjos, a rocha, a casa e a árvore. Está estático, reto, porque esta pessoa é origem de si mesma: é o sinal da majestade e a referência para os outros dois.
O gesto da mão e o olhar parecem confiar uma missão ao Filho que a acolhe, curvado, em sinal de consentimento. As Suas mãos não tocam a terra altar, mas a abençoam com os dois dedos da mão direita levantados; Ele não está no mundo. A cabeça inclinada indica que Ele acolhe a oferta amorosa do Filho.
O FILHO
O anjo central, o Filho, traja a túnica ocre: a cor da terra, símbolo da sua natureza humana assumida na encarnação; o manto azul é sinal da natureza divina da qual se “vestiu” depois da sua vida na terra e cobre só um ombro, porque Ele é enviado pelo Pai. A estola amarela indica a missão vitoriosa do Cristo “sacerdote”, que se deu a si mesmo para a salvação do mundo e ressuscitou.
O seu corpo curvado e o olhar de Amor voltado para o Pai indicam a aceitação e a docilidade à vontade paterna. Está comunicando com o Pai a respeito da missão que cumpriu.
A sua mão direita, apoiada à terra altar, é a mais próxima do cálice da oferta, porque ele é a oferta simbolizada pela cabeça do cordeiro. A mão reproduz o gesto de abençoar do Pai e o ato de apoiá-la à terra altar indica a sua descida ao mundo através da encarnação; os dois dedos são o símbolo das suas duas naturezas: Ele é plenamente Deus e plenamente homem.
O ESPÍRITO SANTO
O anjo da direita, o Espírito Santo, traz sobre a túnica azul, símbolo da sua divindade, um manto verde-água: é a cor da vida, do crescimento e da fertilidade. No campo espiritual o verde é o símbolo da força vivificante do Espírito, que ressuscitou Cristo e comunicou ao mundo a plenitude do significado da Ressurreição.
É Ele quem dá a vida: o Espírito de Amor e da comunhão. Dos três, este é o anjo que tem a expressão mais reservada.
A sua figura é a mais curvada sobre a mesa, em atitude de escuta, de humildade e de docilidade. Revela-nos um aspecto novo do Amor, tipicamente feminino, que é também necessidade de ser acolhido, protegido, para ser fecundado.
A sua mão pendente sobre a terra altar indica a direção da bênção: o mundo ao qual o Espírito dá vida e crescimento, fazendo germinar o cálice do sacrifício e o seu fruto.
O Espírito está participando profundamente do diálogo divino e está pronto para ser enviado ao mundo para continuar a obra do Filho.
O manto, apoiado sobre um dos seus ombros, e o pé, que está respondendo à dança iniciada pelo Pai, são símbolos do seu estar preparado para partir para cumprir a missão que lhe foi confiada: "Quando o Espírito vier, Ele vos guiará à verdade toda inteira, dirá tudo que já foi dito e lhes anunciará as coisas futuras" (Jo 16,13).
Todo o simbolismo iconográfico do ícone da Trindade nos mostra a tese eclesiológica fundamental: a Igreja é uma revelação do Pai no Filho e no Espírito Santo.
OS OUTROS ELEMENTOS
Atrás do Pai se vê a casa de Abraão, que se tornou templo, morada do pai e símbolo da Igreja, sua Filha, porque "corpo" de Cristo, segundo a teologia paulina.
O carvalho de Mambré se transforma na árvore da morte, da tentação de Adão, origem da queda da humanidade. Ela é também símbolo da vida: a cruz em que Cristo, o homem novo, pagou o resgate da humanidade.
A rocha monte atrás do Espírito é, ao mesmo tempo, símbolo de proteção, de lugar "teofânico", isto é, lugar onde Deus se manifesta e símbolo da ascensão espiritual.
O vitelo ofertado por Sara numa bandeja se torna o cálice eucarístico.
O ouro, símbolo da luz divina: o fundo e as auréolas douradas são símbolo da luz divina, como o sol é fonte de toda luz e cor.
No ícone a luz não é natural mas espiritual: provém da graça recebida, por meio do Espírito, antes de tudo pelo iconógrafo, na contemplação do mistério que ele vai representar, depois por quem contempla o ícone com a mesma atitude de oração.
PERSPECTIVA INVERSA E ATITUDE NA FRENTE DO ÍCONE
Os ícones não são autônomos, mas são "escritos" em função da liturgia e concebidos para um espaço litúrgico: é uma mensagem de fé, um "lugar" de encontro com Deus, através daquilo que está representando.
Esse encontro acontece na oração, na medida em que o ícone, além de ser admirado, suscita em quem o está contemplando a experiência da qual nasceu.
Como em cada ícone oriental, os pontos de vista do artista e do admirador não coincidem. Nos ícones encontramos o sistema de perspectiva inversa que elimina a distância e a noção de profundidade, onde tudo desaparece no horizonte. O efeito, no ícone, é contrário: aproxima as pessoas em um primeiro plano contemplativo, facilitando a entrada de quem está olhando no coração da cena, na profundidade do mistério. Mostra que Deus está lá, que está em todo lugar.
A atitude justa frente a cada ícone é a oração e a contemplação, como diante de uma janela aberta para o transcendente.
Nunca se pode dizer que o ícone está acabado, o último toque toca a quem olha com atitude humilde de escuta da Palavra escrita.
O ícone é dialógico por natureza, porque nos convida a entrar em diálogo com o Mistério representado. Quem aceita o convite e entra nesse mistério, participa do banquete: o Pai, o Filho e o Espírito Santo querem viver com o homem o que vivenciam entre eles.
Gostaríamos de acolher o convite a sentar-nos a mesa com os Três, participar da conversa sagrada, captar e tornar nossa a troca de Amor e comunhão entre as três pessoas, aparentemente idênticas, mas distintas na própria missão.
Queremos assumir a mensagem deste ícone, que é a de Cristo de João 17,20-21: "Não rogo somente por eles, mas pelos que, por meio de sua palavra, crerão em mim: a fim de que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste."
O Espírito é o Amor entre o Pai e o Filho, portanto, queremos nos tornar dóceis à sua ação, para viver a mesma comunhão de Amor que o Pai quer e o Filho opera por meio do Espírito.”
"A comunhão dos cristãos tem por modelo, fonte e meta a mesma comunhão do Filho com o Pai no dom do Espírito" (ChL 18).
Bênção
Deus nos abençoe e nos guarde.
Ele nos mostre a sua face e se compadeça de nós.
Volte para nós o seu olhar e nos dê a sua paz.
Abençoe-nos Deus misericordioso, Pai e Filho e Espírito Santo. Amém.
Deus nos abençoe e nos guarde.
Ele nos mostre a sua face e se compadeça de nós.
Volte para nós o seu olhar e nos dê a sua paz.
Abençoe-nos Deus misericordioso, Pai e Filho e Espírito Santo. Amém.