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quinta-feira, 6 de setembro de 2012

As ideias base do Concílio Vaticano - Parte I Art. VII

     Nos capítulos passados apresentamos alguns assuntos importantes tratados no Concílio. Queremos neste capítulo passar as ideias básicas que moveram todo o pensamento que dominava os discursos, os debates e os resultados encontrados nos 16 documentos deste grande evento.
     Devemos reconhecer que muitos bispos não entenderam por que era tão necessário um concílio, e menos ainda entenderam sobre os assuntos apresentados nas quatro sessões realizadas de 1962 até 1965, durante dois meses. Porque o papa falava tantas vezes em “aggiornamento”, na necessidade de colocar a Igreja em dia? Infelizmente devemos dizer: falta de visão. Dom Hélder Câmara, naquele tempo arcebispo-auxiliar de Rio, falando de um padre, morando com os 75 bispos brasileiros no “Domus Mariae” em Roma durante o Concílio, o futuro cardeal Congar, diz o Dom em seu diário: “um homem muito aberto, cheio de ideias, de IMAGINAÇÃO, e de entusiasmos. Ele possui aquilo que falta em Roma: a visão”.
     O próprio Dom Hélder respondendo um questionário recebido de um cardeal de Roma, o cardeal Mimmi, escreve a ele: “...perdoai-me, Eminência, sem porém, faltar com respeito com os organizadores do Concílio ecumênico, eu observo, com temor, que, no que concerne à comissão para a qual eu sou consultor: a. os questionários preparativos que se assemelham mais à rotina administrativa do que ao nível de um Concílio ecumênico; b. os questionários não examinam os problemas fundamentais e extremamente graves que tocam e vão tocar profundamente a humanidade na segunda metade do sec. XX. Permiti, Eminência, que lhe exponha rapidamente este pensamento que me angustia....Explico: não é tarefa de um concílio “definir critérios para a fusão ou o desmembramento de dioceses”.....É “rotina administrativa” a cargo de..... “Mais impressionante” é que não sejam considerados os problemas da humanidade. Para citar somente dois exemplos, indispensável se faz que o Concílio ecumênico se prepare: 1. Para enfrentar a explosão demográfica que, em 40 anos, elevará a população de 200 a 600 milhões na América Latina, e de 2 bilhões e 400 milhões a 6 bilhões no mundo – perante este dado, torna-se evidente que a comissão pensa em termos de situações normais e clássicas, enquanto a humanidade se acha na antevéspera de acontecimentos anormais e inesperados; 2. Para enfrentar a terrível desigualdade que permite a 1/3 da humanidade o superdesenvolvimento, a abundância e o luxo, enquanto os 2/3 permanecem no subdesenvolvimento e na fome......”. E termina sua resposta ao presidente da comissão: “Eminência: pelo amor de Deus, considere somente nessas palavras, por amor à Santa Igreja e a confiança filial em Vossa Eminência”.
     A visão de dom Hélder nasce já de um duplo olhar: sobre a realidade visível da Igreja e sobre a realidade vivida da humanidade. Será que essa visão de Dom Hélder foi partilhada no Concílio? Precisava de quatro sessões, e ainda bispos voltaram no fim para suas dioceses sem essa mentalidade. O papa, já no início do seu pontificado, convocou este concílio para renovar a Igreja: ser Igreja a um modo novo, a uma maneira diferente. Esta era a ideia mais importante que influenciava todos os documentos promulgados. A Igreja ficou muito tempo parada, sem conseguir se adaptar às mudanças do tempo, causadas pelas descobertas, pelo desenvolvimento industrial, econômico, social e cultural.
     Com este desenvolvimento o próprio homem começou a mudar. Apresentando o tema da renovação, o papa colocou para a Igreja o verdadeiro desafio que ele tinha a enfrentar. Necessário era a mudança de mentalidade dos lideres da Igreja, os bispos; e depois por eles e com eles também os padres. Como dissemos, muitos não entenderam. Ele viu a necessidade de colocar a Igreja em dia, para Ela não se tornar infiel à mensagem de Jesus.
     Mudança de mentalidade. Aqui precisa de uma palavra sobre um grupo presente no concílio, assessorando os bispos, não fazendo propriamente parte da assembleia conciliar, mas exercendo sobre ela grande influência. Foram os teólogos que acompanhavam os bispos e entre eles representantes da teologia da libertação, chamados “os peritos”. No fim da primeira sessão algum bispo holandês (dom Mekkelholt, que também me ordenou sacerdote) sendo bispo em Indonésia (Sumatra) aproveitava cada uma das 4 sessões para visitar rapidamente, antes da volta para sua diocese, a sua família. Passando por nosso seminário, falou em uma palestra para os seminaristas, que ele e outros colegas bispos aproveitavam as tardes para ir às aulas destes peritos da teologia da libertação. Descobriu que ele estava muito “atrasado”, quer dizer: fora do tempo, não conseguindo colocar a fé dentro da realidade da vida atual, com seus problemas, procurando resposta. Sabia falar muito bonito em Jesus, mas o Jesus de 2000 anos atrás. Ele nos declarou que lá, naquelas aulas, foi feito o concílio. Com outras palavras: os teólogos da libertação colaboraram fortemente com a mudança de mentalidade, necessário para entender o objetivo do Concílio. Levou bispos para sair do seu palácio, começando morar em casas “normais”; de tirar toda a pompa da sua roupa; “empobrecendo” as igrejas, dando mais atenção ao altar, ponto central de cada igreja; o papa oferecendo sua tiara, a coroa papal, existindo por três coroas, uma em cima da outra; ele não mais querendo andar pela cadeira gestatória, carregada nos ombros de quatro homens e o papa sentado em cima. Dom Helder, nomeado como arcebispo de Olinda-Recife durante a quarta sessão, preferia na volta, trocar o palácio para a sacristia de uma das igrejas em Recife, onde ele ficou morando até a morte. São apenas sinais, mas expressão da nova mentalidade.
     Adaptação. Podemos dividir, geograficamente, a Igreja em duas partes: a Igreja ortodoxa ou oriental e a Igreja ocidental ou europeia. O concílio de Trento, realizado depois da Reforma Protestante, enclausurou a Igreja europeia a um modo tal que existia só uma linha de ação em tudo: nenhuma diversificação. Unidade foi uniformidade, e uniformidade unidade. Só uma maneira de celebrar a santa Missa para todos os povos e todas as culturas, obedecendo às rubricas – regras), só uma lingua para usar no mundo inteiro, sendo o Latim, para todos os sacramentos (por ex. todo a missa em latim, o padre com as costas para o povo, só de vez em quando se virando para dizer ao coroinha em latim: Dominos vobiscum, e o coroinha , sendo o povo, respondendo: et cum spiritu tuo. (Não era brincadeira com o menino, não ) Só um pensamento uniforme sobre o conteúdo da fé. A rigorosidade do concílio de Trento para a união foi necessário por motivo da racha na Igreja pelo protestantismo. Comunidades inteiras se separavam naquele tempo da Igreja. Agora estamos vivendo num mundo que se transforma rapidamente, e num tempo que cria tantas inovações. A Igreja não pode ficar parada. Em cada região estas mudanças são diferentes. Para entender a mensagem de Jesus a Igreja tem que falar a língua daquele povo, se adaptando aos costumes de cada um,. Os bispos do concílio falavam que a Igreja precisava se encarnar em cada povo, em cada nação, em cada cultura (= inculturação ) Voltando para seu povo os bispos deviam adaptar as orientações gerais dos documentos conciliares nas situações concretas das suas dioceses: unidade na Igreja, mas não pela uniformidade e sim na pluriformidade. Podemos ter uma liturgia própria, uma teologia diferente, convivência em comunidades, cada uma com suas riquezas próprias. O s bispos da América Latina, depois do Concílio, até agora, fizeram 4 grandes assembleias (em Medellim, em Puebla, em Santo Domingos e o últImo em Aparecida) para “traduzir” os documentos conciliares para a realidade da América Latina. Dom Helder escreve em seu diário:”Ontem um (dos bispos Africanos) me disse essa maravilhosa palavra em reação contra as expressões “paganismo” , “pagão”, aplicadas aos naturais da Africa (dentro do concílio): “Eles não são pagãos. O paganismo é o vazio de Deus. Nosso povo, mesmo em plena superstição, está cheio de Deus”. E mais adiante escreve de um grande amigo dele, o arcebispo de Yaoundé nos Camarões, Africa, como ele se apresenta: “Negro como carvão e bispo da Igreja universal”. Podemos nos imaginar que um bispo desse da Africa se expresse bastante diferente do que um colega bispo da Alemanha ou da França.E para se expressar na maneira dele quando ele fala da fé em Jesus não precisa recorrer por qualquer diferença a Roma. No seguinte artigo falarei sobre mais algumas ideias-força do concílio: sobre decentralização, serviço (em vez de domínio), participação (em vez de monopólio). apresentamos alguns assuntos importantes, tratados no Concílio. Queremos neste capítulo passar as ideias básicas, que moveram todo o pensamento que dominava os discursos, os debates e os resultados, encontrados nos 16 documentos deste grande evento. Devemos reconhecer que muitos bispos não entenderam por que era tão necessário um concílio e menos ainda entenderam sobre os assuntos apresentados nas 4 sessões, realizadas de 1962 até 1965, cada vez durante dois meses. Porque o papa falava tantas vezes em “aggiornamento”, na necessidade de colocar a Igreja em dia? Infelizmente devemos dizer: falta de visão. Dom Helder Cámara, naquele tempo arcebispo-auxiliar de Rio, falando de um padre, morando com os 75 bispos brasileiros no “Domus Mariae” em Roma durante o Concílio, o futuro cardeal Congar, diz do Dom em seu diário: “um homem muito aberto, cheio de ideias, de IMAGINAÇÃO, e de entusiasmos. Ele possui aquilo que falta em Roma: a visão”. O próprio Dom Helder respondendo um questionário recebido de um cardeal de Roma, o cardeal Mimmi, escreve a ele: “...perdoai-me, Eminência, sem porém, faltar com respeito com os organizadores do Concílio ecuménico, eu observo, com temor, que, no que concerne à comissão para a qual eu sou consultor: a. os questionários preparativos que se assemelham mais à rotina administrativa do que ao nível de um Concílio ecumênico; b. os questionários não examinam os problemas fundamentais e extremamente graves que tocam e vão tocar profundamente a humanidade na segunda metade do sec. XX. Permiti, Eminência, que lhe exponha rapidamente este pensamento que me angustia....Explico: não é tarefa de um concílio “definir critérios para a fusão ou o desmembramento de dioceses”.....É “rotina administrativa” a cargo de..... “Mais impressionante” é que não sejam considerados os problemas da humanidade. Para citar somente dois exemplos, indispensável se faz que o Concílio ecumênico se prepare: 1. Para enfrentar a explosão demográfica que, em 40 anos, elevará a população de 200 a 600 milhões na América Latina, e de 2 bilhões e 400 milhões a 6 bilhões no mundo – perante este dado, torna-se evidente que a comissão pensa em termos de situações normais e clássicas, enquanto a humanidade se acha na antevéspera de acontecimentos anormais e inesperados; 2. Para enfrentar a terrível desigualdade que permite a 1/3 da humanidade o superdesenvolvimento, a abundância e o luxo, enquanto os 2/3 permanecem no subdesenvolvimento e na fome......” E termina sua resposta ao presidente da comissão: “Eminência: pelo amor de Deus, considere somente nessas palavras, por amor à Santa Igreja e a confiança filial em Vossa Eminência”. A visão de dom Helder nasce já de um duplo olhar: sobre a realidade visível da Igreja e sobre a realidade vivida da humanidade. Será que essa visão de Dom Helder foi partilhada no Concílio? Precisava de 4 sessões, e ainda bispos voltaram no fim para suas dioceses sem essa mentalidade. O papa, já no início do seu pontificado, convocou este concílio para renovar a Igreja: ser Igreja a um modo novo, a uma maneira diferente. Esta era a ideia mais importante que influenciava todos os documentos promulgados. A Igreja ficou muito tempo parada, sem conseguir se adaptar às mudanças do tempo, causadas pelas descobertas, pelo desenvolvimento industrial, económico, social e cultural. Com este desenvolvimento o próprio homem começou a mudar. Apresentando o tema da renovação, o papa colocou para a Igreja o verdadeiro desafio que ele tinha a enfrentar. Necessário era a mudança de mentalidade dos lideres da Igreja, os bispos; e depois por eles e com eles também os padres. Como dissemos, muitos não entenderam. Ele viu a necessidade de colocar a Igreja em dia, para Ela não se tornar infiel à mensagem de Jesus.
     Mudança de mentalidade. Aqui precisa de uma palavra sobre um grupo presente no concílio, assessorando os bispos, não fazendo propriamente parte da assembleia conciliar, mas exercendo sobre ela grande influência. Foram os teólogos que acompanhavam os bispos e entre eles representantes da teologia da libertação, chamados “os peritos”. No fim da primeira sessão algum bispo holandês (dom Mekkelholt, que também me ordenou sacerdote) sendo bispo em Indonésia (Sumatra) aproveitava cada uma das 4 sessões para visitar rapidamente, antes da volta para sua diocese, a sua família. Passando por nosso seminário, falou em uma palestra para os seminaristas, que ele e outros colegas bispos aproveitavam as tardes para ir às aulas destes peritos da teologia da libertação. Descobriu que ele estava muito “atrasado”, quer dizer: fora do tempo, não conseguindo colocar a fé dentro da realidade da vida atual, com seus problemas, procurando resposta. Sabia falar muito bonito em Jesus, mas o Jesus de 2000 anos atrás. Ele nos declarou que lá, naquelas aulas, foi feito o concílio. Com outras palavras: os teólogos da libertação colaboraram fortemente com a mudança de mentalidade, necessário para entender o objetivo do Concílio. Levou bispos para sair do seu palácio, começando morar em casas “normais”; de tirar toda a pompa da sua roupa; “empobrecendo” as igrejas, dando mais atenção ao altar, ponto central de cada igreja; o papa oferecendo sua tiara, a coroa papal, existindo por três coroas, uma em cima da outra; ele não mais querendo andar pela cadeira gestatória, carregada nos ombros de quatro homens e o papa sentado em cima. Dom Helder, nomeado como arcebispo de Olinda-Recife durante a quarta sessão, preferia na volta, trocar o palácio para a sacristia de uma das igrejas em Recife, onde ele ficou morando até a morte. São apenas sinais, mas expressão da nova mentalidade.
     Adaptação. Podemos dividir, geograficamente, a Igreja em duas partes: a Igreja ortodoxa ou oriental e a Igreja ocidental ou europeia. O concílio de Trento, realizado depois da Reforma Protestante, enclausurou a Igreja europeia a um modo tal que existia só uma linha de ação em tudo: nenhuma diversificação. Unidade foi uniformidade, e uniformidade unidade. Só uma maneira de celebrar a santa Missa para todos os povos e todas as culturas, obedecendo às rubricas – regras), só uma lingua para usar no mundo inteiro, sendo o Latim, para todos os sacramentos (por ex. todo a missa em latim, o padre com as costas para o povo, só de vez em quando se virando para dizer ao coroinha em latim: Dominos vobiscum, e o coroinha , sendo o povo, respondendo: et cum spiritu tuo. (Não era brincadeira com o menino, não ) Só um pensamento uniforme sobre o conteúdo da fé. A rigorosidade do concílio de Trento para a união foi necessário por motivo da racha na Igreja pelo protestantismo. Comunidades inteiras se separavam naquele tempo da Igreja. Agora estamos vivendo num mundo que se transforma rapidamente, e num tempo que cria tantas inovações. A Igreja não pode ficar parada. Em cada região estas mudanças são diferentes. Para entender a mensagem de Jesus a Igreja tem que falar a língua daquele povo, se adaptando aos costumes de cada um,. O s bispos do concílio falavam que a Igreja precisava se encarnar em cada povo, em cada nação, em cada cultura (= inculturação ) Voltando para seu povo os bispos deviam adaptar as orientações gerais dos documentos conciliares nas situações concretas das suas dioceses: unidade na Igreja, mas não pela uniformidade e sim na pluriformidade. Podemos ter uma liturgia própria, uma teologia diferente, convivência em comunidades, cada uma com suas riquezas próprias. O s bispos da América Latina, depois do Concílio, até agora, fizeram 4 grandes assembleias (em Medellim, em Puebla, em Santo Domingos e o últImo em Aparecida) para “traduzir” os documentos conciliares para a realidade da América Latina. Dom Helder escreve em seu diário:”Ontem um (dos bispos Africanos) me disse essa maravilhosa palavra em reação contra as expressões “paganismo” , “pagão”, aplicadas aos naturais da Africa (dentro do concílio): “Eles não são pagãos. O paganismo é o vazio de Deus. Nosso povo, mesmo em plena superstição, está cheio de Deus”. E mais adiante escreve de um grande amigo dele, o arcebispo de Yaoundé nos Camarões, Africa, como ele se apresenta: “Negro como carvão e bispo da Igreja universal”. Podemos nos imaginar que um bispo desse da Africa se expresse bastante diferente do que um colega bispo da Alemanha ou da França.E para se expressar na maneira dele quando ele fala da fé em Jesus não precisa recorrer por qualquer diferença a Roma. No seguinte artigo falarei sobre mais algumas ideias-força do concílio: sobre decentralização, serviço (em vez de domínio), participação (em vez de monopólio).

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