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sábado, 18 de agosto de 2012

Os momentos decisivos do Concílio Vaticano II

Nos artigos anteriores refletimos sobre a decisão do papa João XXIII, de fazer um concílio. Ele viu, logo depois eleito em 1958, a necessidade de tomar medidas drásticas para colocar a Igreja “em dia”. Em quase todos os momentos oficiais ele aproveitou usar a palavra “aggiornamento” ( giorno = dia ) porque a Igreja não correspondia mais à sua vocação (conforme o papa) de ser luz, de ser sal, e assim não mais ser fiel ao evangelho. De janeiro de 1959 até outubro de 1962 ( abertura do Concílio) as comissões de preparação trabalharam para fazer os documentos sobre os assuntos escolhidos, mandando os para os bispos antes da data inicial de 11 de outubro. Naquele dia, agora exatamente 50 anos passados, 2.500 bispos, chegados do mundo inteiro, mais os superiores religiosos e observadores de outras igrejas cristãs ( ortodoxas, anglicanas e protestantes), começaram na basílica de São Pedro em Roma o segundo concílio vaticano. Só não receberam licença de ir os bispos chineses e alguns bispos de países comunistas.

A abertura. No discurso de abertura o papa João XXIII traçou o objetivo do concílio: re-tomar a doutrina da Igreja, recebida de Cristo, e expô-la numa linguagem nova, mais inteligível aos homens de hoje, mais de acordo com as exigências atuais. Dar roupagem nova a uma doutrina antiga. Ir ao encontro do homem atual. Este objetivo é para o papa: aggiornamento: colocar a Igreja em dia - renovação, outra maneira de agir em tudo: na formação, na vida religiosa, na pastoral, nas instituições ( varias congregações de freiras intenderam, saíram dos grandes conventos e começaram, em pequenos grupinhos, morar no meio do povo), na orientação, em tudo o que compõe a Igreja de Jesus.

As comissões. Era necessário organizar o funcionamento do Concílio. Para isso era necessário formar dez comissões para elaborar os diferentes assuntos. Cada comissão de 24 membros: 16 eleitos pela assembleia dos bispos (em total 160 ) e 8 bispos, depois indicados pelo papa, para cada comissão. Surgiu a pergunta: como é possível escolher nossos representantes se ainda não nos conhecemos? Estava aí se armando a primeira manobra ”política” no concílio. O s que queriam manipular o andamento do concílio entregaram aos bispos duas listas. Uma em que constava os nomes de todos eles, e outra com os nomes daqueles bispos que tinham tomado parte nas comissões preparatórias do concílio, que em sua maioria eram bispos italianos conservadores. Era evidente que, não conhecendo outros nomes mais convenientes, os bispos iriam indicar aqueles colegas. Foi aí o francês, cardeal Lienart, que interferiu. Pediu para adiar a formação das comissões, para ter tempo de os bispos se consultar e assim cada nação indicar os nomes mais convenientes. A perplexidade foi geral: interferir no esquema do planejamento do concílio! Foi um primeiro sinal de tentativa de colegialidade dos bispos junto com o papa. Os bispos de vários países e continentes logo organizaram uma lista de bispos competentes de todas as nações. No dia de votação quase todos esses foram eleitos. Típico que nenhum da lista, organizada pelo episcopado Italiano, o mais numeroso de todos, foi escolhido. Este fato teve uma importância decisiva em todo o desenrolar do Concílio e não só para ao concílio. A Igreja começou a se soltar de ser Igreja Italiana ou a Igreja da Cúria Vaticana. Não ia demorar muito para a Igreja receber, como durante vários séculos, um papa, sendo um bispo italiano, mas um de fora da Itália ( cardeal Wojtila, de Polônia – papa João Paulo II).

Os primeiros documentos. O primeiro documento, aceito pela assembleia, era o esquema sobre a liturgia, um dos melhores esquemas preparados pela comissão preparatória, embora levasse, antes de ser aceito, um mês inteiro para analisa-lo e receber modificações. Após este esquema foi apresentado o esquema sobre a Sagrada Escritura, que continham temas da Revelação, da Tradição e do Magistério da Igreja. Exatamente temas de divergência com as igrejas protestantes. Os protestantes dizem: só a palavra da bíblia. O católicos dizem: a Bíblia e a tradição ( =como a bíblia foi entendida na Igreja primitiva) O s protestantes dizem: só o Espírito Santo para entender e explicar a bíblia. O católicos dizem: O Espírito santo e a explicação da Igreja à luz do mesmo Espírito. Os protestantes dizem: só a fé (sole fide). O católicos dizem: a fé junto com as obras, para receber a vida eterna. Foi exatamente a oposição aos protestantes que dominava o texto do esquema. Não agradou à maioria dos bispos. Surgiu o pedido de rejeitar o esquema. Na votação faltou pouco de dois terços de votos, necessário para rejeitá-lo. Isto ia causar um longo tempo de debates para modificar o texto, item por item, para chegar à aceitação do esquema. No dia seguinte á votação o papa João XXIII comunicou aos bispos em assembleia que por autoridade própria resolvia retirar o esquema, para que fosse redigida em termos ecumênicos. Foi a primeira vez que o papa interveio.A alegria foi grande. E mais uma vez o papa confirmava que a finalidade do concílio não era polêmica, discutindo sobre dogmas, pontos de fé, mas pastoral e ecumênica.

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